Obs: Cami já falou sobre Honey & Clover aqui: http://assistidorasdeanime.blogspot.com.br/2011/04/honey-and-clover.html
Assim como ela diz no post dela, é comum você começar a assistir e não achar tão interessante, e só depois rever e começar a gostar. Foi assim comigo. Nosso olhar sobre o anime é similar, porém, resolvi refletir um pouquinho e reforçar a recomendação.. persista, você não vai se arrepender!!!
Hachimitsu no Clover
Gênero: Josei, Seinen, Shoujo, Romance, Drama, Comédia, Slife of Life, Vida Escolar, Faculdade.
Quando tinha 17 anos e estava iniciando a faculdade, minha amiga Camila me indicou um anime chamado "Honey & Clover" (de Chica Umino), sobre um grupo de amigos universitários de cursos na área de artes (assim como a gente naquela época). A premissa simples não me empolgou tanto, eu vinha da adolescência encharcada de histórias fantásticas e irreverentes, fossem em filmes, livros ou quadrinhos, e aquele cotidiano relacional não me fisgou nos três episódios que vi. Até achei interessante, mas faltava mais emoção fantasiosa, acho.
Muitos anos depois (muitos mesmos) eu voltei a assistir animes e a indicação de Honey & Clover parecia soar mais interessante. Enrolei, exatamente por isso: tinha certeza que com a experiência de agora eu seria fisgada pela história e foi o que ocorreu quando finalmente resolvi assistir.
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Mayama, Morita e Takemo |
A história mostra cinco anos de convivência de um grupo de amigos que estudam na universidade Hamabi, em Tóquio, em cursos de artes: o doce e cuidadoso Yuuta Takemoto (que inicia narrando a história), o atencioso e centrado Takumi Mayama (prestes a se formar) e o caótico Shinobu Morita, que está na faculdade há anos e parece que não vai se formar tão cedo (apesar de ser um artista brilhante). Eles dividem a moradia em um complexo habitacional com outras pessoas, como Hanamoto Shuuji, professor da faculdade.
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Shuuji e Hagu |
Quando o professor Shuuji apresenta a eles a nova moradora do local e estudante da faculdade, sua jovem prima e protegida, Hagumi Hanamoto, o enredo começa a se desenrolar. Com aparência delicada, pequena e frágil - ela parece uma criança, embora já tenha 18 anos, o que é estranho no início, mas incomoda menos a medida em que ela amadurece - , Hagu é uma promessa na área artística com sua genialidade para pintura. Takemoto e Morita acabam se apaixonando pela menina à primeira vista.
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Ayumi |
Hagu logo se torna amiga de Ayumi Yamada, uma bela estudante de cerâmica, que se junta ao grupo de amigos. A moça é extremamente popular entre os garotos, mas só tem olhos para Mayama, que por sua vez, ama fervorosamente sua chefe no trabalho, Rika Harada, ex colega de Shuuji. Existem ainda outros personagens que aparecem como Kaoru Morita (irmão mais velho de Shinobu), Takumi Nomiya (galanteador, que trabalha com Mayama e se interessa por Ayumi), entre outros.
Durante cinco anos, triângulos amorosos, amores não correspondidos, dilemas, dúvidas, aflições acerca do futuro e da profissão, medos e anseios, são apresentados de maneira divertida, leve, mas por vezes bastante dramática (não se engane pelo traço fofo). Takemoto, o principal narrador (a narração se alterna com outros personagens, devo salientar), reprime todo o tempo sua angústia de não se achar suficientemente bom em um meio onde existem gênios como Hagu ou Morita. Seu questionamento sobre sua função na vida, sobre o que ainda quer realizar, os empecilhos financeiros e realistas da vida adulta, "até onde ele pode ir sem voltar" usando sua bicicleta (a grande questão desde o início, o qual se pergunta ao pedalar a bicicleta que trouxe de sua cidade natal).
Ao mesmo tempo, os excessivamente talentosos como Hagu e Morita, convivem com a pressão de corresponderem as expectativas dos outros por possuírem um dom almejado por muitos, quando eles tem suas próprias aspirações e necessidades pessoais ligadas a arte.. Enquanto Mayama e Ayumi lidam bem com suas potencialidades e fragilidades profissionais e a entrada na vida adulta, mas por outro lado, perduram arduamente em amadurecer na questão emocional e afetiva por terem amores não correspondidos.
Nos triângulos amorosos, não existe conflitos ou rivalidade declarada, os sentimentos são resguardados em prol da amizade que se estabelece entre todos ou por conta da insegurança ou falta de compreensão do afeto. Ayumi, mesmo rejeitada por Mayama, continua próxima de todos, nutrindo esperanças de um dia o rapaz lhe ver de outra maneira, embora ele espere que o mesmo aconteça com Rika, que o rejeita por motivos ligados a culpa pela perda do marido. Já Takemoto esconde seu amor platônico e se torna amigo de Hagu, enquanto Morita se relaciona com ela de formas estranhas, como lhe fotografando e criando apelidos, o que espanta a garota, mas também lhe intriga.
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Morita |
Os personagens e as situações podem parecer, por vezes, meio caricatas ou irreais, como os sumiços de Morita (que alterna total irreverência com lampejos de sensibilidade e seriedade), por exemplo, porém, no balanço geral, é tudo feito de forma tão genuína, com personagens tão ricos e profundos que é impossível não se identificar com algum deles (ou todos). É muito comum a pessoa ter tentado assistir o anime quando adolescente, e não ter gostado, e anos depois, mais amadurecida, ter ficado apaixonada (como eu). No início as situações pouco extraordinárias podem soar tediosas, contudo, não desista.. quando você menos notar, vai se sentir íntimo de cada um dos personagens, como se fossem seu grupo de amigos.
É notório como é importante essa empatia, inclusive nas personagens é possível perceber o amadurecimento sem se perder a essência, fiquei impressionada com a transformação natural de Takemoto e até de Hagu. O humor e a leveza são muito bem explorados, é um anime gostoso de se assistir após um dia turbulento, entretanto existe algum drama e alguma tristeza, dependendo do ponto de vista muita tristeza, mas está longe de ser um dramalhão que apela para a dor, pelo contrário, o auto-conhecimento é o gancho que nos faz refletir sobre as situações da vida, as passagens, a importância de passar por certas situações, por certos problemas e frustrações.
Concluindo... você não verá uma turma com superpoderosos vivendo grandes aventuras ou uma carreira promissora e genial (por mais que existam gênios no anime, isso não é colocado como recurso para protagonismo, como em outros) o que acaba sendo o charme de Honey & Clover. Se muitos animes são protagonizados por pessoas que realizam grandes feitos (seja por talentos natos ou adquiridos), heróis e heroínas com poderes, aventuras fantasiosas, romances ou habilidades extraordinárias, amores que acontecem se você insistir, e nos dão a sensação de que nossa vida real de expectador é vazia e monótona, Honey & Clover traz exatamente o oposto: a sensação de que vida é isso mesmo, a busca incessante por sentido, que somos únicos e parecidos em nossos dilemas, e que ela é bela na simplicidade dos momentos que partilhamos com quem conhecemos ao longo dela, mesmo que seja por um período curto de tempo.
Outra particularidade, talvez a mais importante: a maioria das histórias enaltecem aqueles que persistem atrás de um amor impossível ou um sonho distante e atingem, mas falam muito pouco sobre como lidar com a vida quando as coisas não saem do jeito que foi pensado, aquela pessoa que não te ama do mesmo jeito, aquele objetivo que só lhe machuca quando você corre atrás. É necessário e saudável se desapegar e seguir em frente, e isso Honey & Clover nos mostra com maestria! Isso se chama aprender a lidar com frustração e seguir em frente!
Ah, outro ponto: trilha sonora muito acima da média. Além da abertura inusitada e do fechamento lindo, as músicas de fundo são muito boas, compõem com delicadeza a melancolia de algumas cenas, ou uma batida mais bossa nova dão o humor para outra cena.
Resumindo: recomendo para caramba. Se você nunca viu um anime, insista. Se você viu os primeiros episódios e achou sem graça, insista. Lá para o décimo, fica difícil não querer maratonar e não se apaixonar pelas personagens, não é de se surpreender o sucesso que faz até hoje (na época o mangá ganhou prêmio). Tenho certeza que de muitas histórias que vi na vida, essa provavelmente foi uma das que mais me tocou.
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