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segunda-feira, outubro 02, 2017

As Inteligentes Camadas de Fullmetal Alchemist Brotherhood


FULLMETAL ALCHEMIST BROTHERHOOD




Gênero: Drama, Ação, Aventura, Shounen

Autora: Hiromu Arakawa


Já aviso, eu ainda não assisti ao Fullmetal Alchemist Clássico. Sempre ouvi falar infinitamente bem de FMA, mas a quantidade de episódios e o fato de terem filmes, ovas e um remake me fazia não ter ideia de por onde começar. A trama, que parecia se centrar em lutas, ação e aventura, também já não é o estilo que mais me salta os olhos. 

Porém, ao ouvir repetidos elogios de críticos e leigos apreciadores de animes, fui atrás. A indicação era para iniciar com Fullmetal Alchemist Botherhood por ser mais fiel ao mangá (o primeiro anime destoa do material original e praticamente é um filler, uma história paralela, embora tenha seu enorme grupo de fãs). 




Vamos a Sinopse:

"Nada pode ser obtido sem sacrifício. Para se obter algo é preciso oferecer algo em troca de igual valor. Esse é o princípio básico da alquimia, a Lei da Troca Equivalente". (Elric, Alphonse)

Em um mundo onde a Alquimia existe e é amplamente utilizada por algumas pessoas, os irmãos Edward e Alphonse Elric, empolgados com as próprias habilidades, resolvem desafiar a Lei da Alquimia, que proíbe a transmutação humana, para trazer de volta à vida a mãe, recentemente morta por uma doença. Contudo, por conta da Lei da Troca Equivalente, descrita na citação acima, Edward perde uma das pernas e Alphonse perde o próprio corpo. Em um ato desesperado, Edward consegue selar a alma de Alphonse  numa armadura, mas como troca perde também um dos seus braços.



Após o ato pecaminoso, Edward já com próteses para substituir o braço e a perna, decide, junto a Alphonse, partir em busca de algo que possa resgatar seus corpos, como a lendária e famosa Pedra Filosofal. Para ajudar a investigar a existência da Pedra Filosofal, Edward entra no time de Alquimistas do Governo, por conta de seu talento acima da média, o que lhe confere a alcunha de Alquimista do Aço, o mais jovem alquimista federal. O que de início é uma jornada para alcançar seus objetivos pessoais, desenrola-se em um enredo repleto de complôs, um viés político, antagonistas, vilões e aliados, com outros personagens aderindo à trama, como o Coronel Roy Mustang, Winry, a amiga de infância dos irmãos, a mestre Izumi Curtis, o Príncipe Ling Yao, entre outros, além de dilemas a respeito da conquista ao poder em voga.





DE TÉDIO A VÍCIO

Demorou até eu me convencer de que assistiria os 64 episódios. Se não fosse o alarde entorno de FMA, eu teria desistido. Mas ainda bem que eu continuei..

Fullmetal Alchemist, no primeiros episódio, dá uma trama interessante que te incita vontade de acompanhar. A cena dos irmãos pequenos perdendo corpo e membros é emocionante. Depois disso, porém, eu fiquei um pouco desanimada para acompanhar. O trabalho dos meninos na Cidade Central não me abrilhantava os olhos. Apesar disso, persisti. 

Fullmetal é bastante cômico e cheio de ação. A comédia é um dos fortes no começo, e para alguns pode soar infantilizado (confesso que me diverti). Assemelha-se em parte aos tempos engraçados de Dragon Ball, ou a Narutinho, ou outros shounen, sem as piadas com garotas peladas ou velhos tarados. Entretanto, quando a gente vai percebendo onde a trama quer chegar, percebe-se que é tudo muito mais profundo e bem planejado...




Os personagens vão te conquistando aos poucos: o explosivo Edward (e seu complexo de altura) e o doce Alphonse, a relação de lealdade e amor dos irmãos é uma delícia de se ver; a carinhosa e explosiva Winry, o monstruoso e afetuoso Armstrong, o gentil e desajeitado Hughes, o sério e habilidoso, mas por vezes sem noção Coronel Roy Mustang, o ganancioso e excêntrico Greed, o perspicaz Ling Yao, são alguns dos personagens que nos cativam, dentre inúmeros que dão as caras. 

Estranhos e poderosos seres malignos como a sedutora Lust, o tenebroso Gluttony, o arrogante Envy, capaz de mudar de forma, pareciam, no início, meros vilões, daqueles típicos. A aparição do misterioso ishvaliano Scar,  que quer se vingar pela dizimação de seu povo, objetivando assassinar os alquimistas que ele acredita estarem pecando e brincando de "Deus", reacendeu novas discussões e também a minha chama de interesse, cruzando-se com a vilania já estabelecida.



Questionar os ciclos de ódio, vingança e guerra, preconceito e intolerância entre etnias (representados pelos Ishvalianos, vilanizados, mas vítimas), a supremacia do poderio, militarismo e suas obrigações (a exaltação cega no Führer), a busca desenfreada pela satisfação pessoal, a arrogância que pode vir de qualquer ser humano (Mustang, Ed), a moral no uso da alquimia (transmutação humana, surgimento de quimeras), as consequências desoladoras de atos dúbios (irmãos Elric, Mustang e Riza, Scar e sua vingança), a aceitação da condição humana e da efemeridade da vida (a perda de Trisha, a busca pela eternidade através da Pedra Filosofal).. tudo isso são camadas dramáticas e existenciais presentes indireta ou diretamente. A autora se usa de um mundo fictício para falar de temas humanos!

Muitos amantes do FMA clássico disseram que a versão Brotherhood é mais infantil. Que a primeira é pesada e com um final mais triste e por isso mais impactante. Eu acredito que Brotherhood, porém, seja densa ao seu estilo, e faz o que trabalhos aclamados da Dreamworks conseguem com maestria: trazer camadas à história, possibilitando que ela seja apreciada por uma criança, por um adolescente ou por um adulto. Uma criança será capaz de inferir uma parte das camadas, dentro de sua visão de mundo poética e sensorial. Ela vai captar as dores da perda e a amizade e perseverança, presentes de forma clara do início ao fim, divertir-se com os momentos cômicos, apreciar as cores fortes e os efeitos nas lutas.

Aqueles com mais maturidade conseguirão, entretanto, absorver os dilemas existenciais, a responsabilidade com as atitudes, e todo o contexto de crítica à guerra e ambição humana.






O UNIVERSO E A ALQUIMIA


Achei o universo bolado pela Arakawa um dos mais plausíveis e bem amarrados. O país onde a história se passa, Amestris, assemelha-se à Europa da Revolução Industrial, possui algumas etnias, e a técnica de Alquimia ser parte do dia a dia sócio-político do local é algo apresentado de forma firme e crível. A autora parece ter estudado à fundo a Alquimia e seus princípios e Leis, a relação com Química, o que, junto à magia fantástica, torna-se interessante e verossímil em sua própria lógica. Também transpõe as questões de conflitos religiosos e territoriais com a luta da população contra os Ishvalianos, etnias de um mesmo país. Os outros países (Xerxes, Xing), lendas e acontecimentos anteriores acrescentam riqueza.



PARTICIPAÇÃO FEMININA: OUTRO PONTO FAVORÁVEL



Fullmetal Alchemist dá uma aula de como utilizar personagens femininas. Os protagonistas são garotos (o público-alvo de Shounen são garotos dessa faixa-etária, nada mais natural), mas desde o início as mulheres participam ativa e efetivamente. Elas não são sexualizadas nem servem de adorno (mesmo a Homúnculos que representa a luxúria, Lust, é ativa, e não objeto de alguém). Elas são diversas e possuem várias motivações e personalidades. Femininas ou não, espertas, ligadas a beleza, alquimistas, fodásticas, comuns, inteligentes, com força interior ou física, boas ou más. Elas não estão lá apenas como enfeite ou como muleta de personagem masculino. É uma pena ter que comemorar algo que deveria ser o natural.. 


TRILHA SONORA

Não sou muito de falar dos efeitos ou design, até porque em Fullmetal não tem nada de espetacular, contudo, em relação a trilha sonora, é um trunfo! As músicas que compõem as cenas são tocantes. A "Main Theme" que é utilizada na Transmutação Humana dos irmãos Elric é uma das minhas favoritas, um misto de ironia e tragédia. A Trisha's Lubally é uma das mais tristes e bonitas dos animes. A primeira abertura empolga e já se tornou clássica. Existem várias outras canções interessantes, ora pontuando as sensações, ora contrastando com o acontecimento. 





(essa segunda é só se você quiser chorar)




SOBRE O FINAL  (PODE CONTER SPOILERS DO ENREDO)


Achei o final, em que Edward sacrifica seu poder de Alquimia para trazer de volta o corpo do irmão, extremamente impactante e certeiro. Muitos acharam que foi pouco: que o final dramático do FMA clássico, em que eles se separam, seria uma troca equivalente melhor, porém, eu estou com a autora e criadora da série. As habilidades extraordinárias de Edward foram responsáveis pela impertinência que resultou nas limitações dos meninos. Porém, eles também eram CRIANÇAS, vítimas das circunstâncias. Aparentemente abandonados pelo pai, sozinhos, sem a pessoa mais importante, que era a mãe. Eram crianças de coração enorme e muita bondade, um vínculo afetuoso e mútuo entre si. Eles mereceram o final feliz que tiveram. É triste você pensar no Edward viver para sempre sem seu talento mais precioso, uma genialidade que o destacava dos demais. É levemente agridoce.



(FIM DOS SPOILERS)




CONCLUSÃO




Fullmetal Alchemist Brotherhood é um anime que me surpreendeu positivamente, embora eu já tivesse iniciado com altas expectativas. Eu me diverti, chorei, ri, fiquei viciada, desopilei da vida, umas poucas vezes agoniada ou entediada, mas muito tocada. FMA deixou um gosto que só ótimas obras deixam: concluída, mas com o eco da história ressoando na minha própria vida.





Por Bruh

sexta-feira, julho 28, 2017

Honey & Clover: A Melancolia e a Delícia da Vida

Obs: Cami já falou sobre Honey & Clover aqui: http://assistidorasdeanime.blogspot.com.br/2011/04/honey-and-clover.html

Assim como ela diz no post dela, é comum você começar a assistir e não achar tão interessante, e só depois rever e começar a gostar. Foi assim comigo. Nosso olhar sobre o anime é similar, porém, resolvi refletir um pouquinho e reforçar a recomendação.. persista, você não vai se arrepender!!!





Hachimitsu no Clover



Gênero: Josei, Seinen, Shoujo, Romance, Drama, Comédia, Slife of Life, Vida Escolar, Faculdade.


Quando tinha 17 anos e estava iniciando a faculdade, minha amiga Camila me indicou um anime chamado "Honey & Clover" (de Chica Umino), sobre um grupo de amigos universitários de cursos na área de artes (assim como a gente naquela época). A premissa simples não me empolgou tanto, eu vinha da adolescência encharcada de histórias fantásticas e irreverentes, fossem em filmes, livros ou quadrinhos, e aquele cotidiano relacional não me fisgou nos três episódios que vi. Até achei interessante, mas faltava mais emoção fantasiosa, acho.

Muitos anos depois (muitos mesmos) eu voltei a assistir animes e a indicação de Honey & Clover parecia soar mais interessante. Enrolei, exatamente por isso: tinha certeza que com a experiência de agora eu seria fisgada pela história e foi o que ocorreu quando finalmente resolvi assistir.


Mayama, Morita e Takemo



A história mostra cinco anos de convivência de um grupo de amigos que estudam na universidade Hamabi, em Tóquio, em cursos de artes: o doce e cuidadoso Yuuta Takemoto (que inicia narrando a história), o atencioso e centrado Takumi Mayama (prestes a se formar) e o caótico Shinobu Morita, que está na faculdade há anos e parece que não vai se formar tão cedo (apesar de ser um artista brilhante). Eles dividem a moradia em um complexo habitacional com outras pessoas, como Hanamoto Shuuji, professor da faculdade.

Shuuji e Hagu


Quando o professor Shuuji apresenta a eles a nova moradora do local e estudante da faculdade, sua jovem prima e protegida, Hagumi Hanamoto, o enredo começa a se desenrolar. Com aparência delicada, pequena e frágil - ela parece uma criança, embora já tenha 18 anos, o que é estranho no início, mas incomoda menos a medida em que ela amadurece - , Hagu é uma promessa na área artística com sua genialidade para pintura. Takemoto e Morita acabam se apaixonando pela menina à primeira vista.


Ayumi


Hagu logo se torna amiga de Ayumi Yamada, uma bela estudante de cerâmica, que se junta ao grupo de amigos. A moça é extremamente popular entre os garotos, mas só tem olhos para Mayama, que por sua vez, ama fervorosamente sua chefe no trabalho, Rika Harada, ex colega de Shuuji. Existem ainda outros personagens que aparecem como Kaoru Morita (irmão mais velho de Shinobu), Takumi Nomiya (galanteador, que trabalha com Mayama e se interessa por Ayumi), entre outros.





Durante cinco anos, triângulos amorosos, amores não correspondidos, dilemas, dúvidas, aflições acerca do futuro e da profissão, medos e anseios, são apresentados de maneira divertida, leve, mas por vezes bastante dramática (não se engane pelo traço fofo). Takemoto, o principal narrador (a narração se alterna com outros personagens, devo salientar), reprime todo o tempo sua angústia de não se achar suficientemente bom em um meio onde existem gênios como Hagu ou Morita. Seu questionamento sobre sua função na vida, sobre o que ainda quer realizar, os empecilhos financeiros e realistas da vida adulta, "até onde ele pode ir sem voltar" usando sua bicicleta (a grande questão desde o início, o qual se pergunta ao pedalar a bicicleta que trouxe de sua cidade natal).





Ao mesmo tempo, os excessivamente talentosos como Hagu e Morita, convivem com a pressão de corresponderem as expectativas dos outros por possuírem um dom almejado por muitos, quando eles tem suas próprias aspirações e necessidades pessoais ligadas a arte.. Enquanto Mayama e Ayumi lidam bem com suas potencialidades e fragilidades profissionais e a entrada na vida adulta, mas por outro lado, perduram arduamente em amadurecer na questão emocional e afetiva por terem amores não correspondidos.





Nos triângulos amorosos, não existe conflitos ou rivalidade declarada, os sentimentos são resguardados em prol da amizade que se estabelece entre todos ou por conta da insegurança ou falta de compreensão do afeto. Ayumi, mesmo rejeitada por Mayama, continua próxima de todos, nutrindo esperanças de um dia o rapaz lhe ver de outra maneira, embora ele espere que o mesmo aconteça com Rika, que o rejeita por motivos ligados a culpa pela perda do marido. Já Takemoto esconde seu amor platônico e se torna amigo de Hagu, enquanto Morita se relaciona com ela de formas estranhas, como lhe fotografando e criando apelidos, o que espanta a garota, mas também lhe intriga.

Morita

Os personagens e as situações podem parecer, por vezes, meio caricatas ou irreais, como os sumiços de Morita (que alterna total irreverência com lampejos de sensibilidade e seriedade), por exemplo, porém, no balanço geral, é tudo feito de forma tão genuína, com personagens tão ricos e profundos que é impossível não se identificar com algum deles (ou todos). É muito comum a pessoa ter tentado assistir o anime quando adolescente, e não ter gostado, e anos depois, mais amadurecida, ter ficado apaixonada (como eu). No início as situações pouco extraordinárias podem soar tediosas, contudo, não desista.. quando você menos notar, vai se sentir íntimo de cada um dos personagens, como se fossem seu grupo de amigos.





É notório como é importante essa empatia, inclusive nas personagens é possível perceber o amadurecimento sem se perder a essência, fiquei impressionada com a transformação natural de Takemoto e até de Hagu. O humor e a leveza são muito bem explorados, é um anime gostoso de se assistir após um dia turbulento, entretanto existe algum drama e alguma tristeza, dependendo do ponto de vista muita tristeza, mas está longe de ser um dramalhão que apela para a dor, pelo contrário, o auto-conhecimento é o gancho que nos faz refletir sobre as situações da vida, as passagens, a importância de passar por certas situações, por certos problemas e frustrações. 



Concluindo... você não verá uma turma com superpoderosos vivendo grandes aventuras ou uma carreira promissora e genial (por mais que existam gênios no anime, isso não é colocado como recurso para protagonismo, como em outros) o que acaba sendo o charme de Honey & Clover. Se muitos animes são protagonizados por pessoas que realizam grandes feitos (seja por talentos natos ou adquiridos), heróis e heroínas com poderes, aventuras fantasiosas, romances ou habilidades extraordinárias, amores que acontecem se você insistir, e nos dão a sensação de que nossa vida real de expectador é vazia e monótona, Honey & Clover traz exatamente o oposto: a sensação de que vida é isso mesmo, a busca incessante por sentido, que somos únicos e parecidos em nossos dilemas, e que ela é bela na simplicidade dos momentos que partilhamos com quem conhecemos ao longo dela, mesmo que seja por um período curto de tempo.



Outra particularidade, talvez a mais importante: a maioria das histórias enaltecem aqueles que persistem atrás de um amor impossível ou um sonho distante e atingem, mas falam muito pouco sobre como lidar com a vida quando as coisas não saem do jeito que foi pensado, aquela pessoa que não te ama do mesmo jeito, aquele objetivo que só lhe machuca quando você corre atrás. É necessário e saudável se desapegar e seguir em frente, e isso Honey & Clover nos mostra com maestria! Isso se chama aprender a lidar com frustração e seguir em frente!




Ah, outro ponto: trilha sonora muito acima da média. Além da abertura inusitada e do fechamento lindo, as músicas de fundo são muito boas, compõem com delicadeza a melancolia de algumas cenas, ou uma batida mais bossa nova dão o humor para outra cena.




Resumindo: recomendo para caramba. Se você nunca viu um anime, insista. Se você viu os primeiros episódios e achou sem graça, insista. Lá para o décimo, fica difícil não querer maratonar e não se apaixonar pelas personagens, não é de se surpreender o sucesso que faz até hoje (na época o mangá ganhou prêmio). Tenho certeza que de muitas histórias que vi na vida, essa provavelmente foi uma das que mais me tocou.







sexta-feira, julho 21, 2017

Toradora e o Estranho caso do Anime que Parei de Ver Antes do Fim



Gênero: Shoujo, Slife of Life, Comédia, Romance, Seinen, Shounen, Vida Escolar

 Toradora foi, primeiramente, uma light novel escrita por Yuyuko Takemiya, posteriormente se tornou um mangá e depois um anime. O jovem Takasu Ryuuji, estudante do segundo ano do ensino médio, possui um aspecto de "delinquente" assim como seu falecido pai, por isso é temido pela maioria das pessoas com quem convive e que não o conhecem à fundo. Contudo, por de trás da face ameaçadora, Ryuuji é na verdade um garoto gentil, estudioso e maníaco por limpeza, que exerce as funções domésticas com maestria.

A história dá início com o novo ano do colégio, onde um desanimado Ryuuji precisa, mais uma vez, quebrar o estigma de "cara do mau", mesmo que já tenha um amigo de longa data, o popular e excêntrico Yusako Kitamara. A paixonite secreta pela entusiasmada e pitoresca Kushieda Mironi, também não lhe parece ser lá muito esperançosa. Sua vida muda quando ele esbarra na colega de turma, Taiga Aisaka, conhecida por todos como "tigresa portátil" por conta de tamanho miúdo e ferocidade.

Alguns eventos depois, Taiga coloca na bolsa de Ryuuji, por engano, uma declaração de amor para Kitamura. Ao descobrir o erro, invade a casa de Ryuuji para pegar a carta de volta, e após um conflito com o rapaz, ele promete não revelar a ninguém seu segredo. O problema é que ele acaba deixando escapar seu amor platônico em relação a Minori, que, ironicamente, é a melhor (e talvez única) amiga de Taiga..




Daí então os dois desenvolvem uma forte amizade e cumplicidade: Ryuuji resolve ajudar Taiga a conquistar Kitamura (e ela subentende que ele fará tudo para ela, como um cão), eles passam a jantar juntos todos os dias, já que Taiga vive só em um apartamento ao lado da casa de Ryuuji, Ryuuji se torna protetor de Taiga, limpando sua casa, cozinhando para ela e zelando por ela (que é praticamente ignorada pelos pais).

É aquela típica história de comédia, romance, vida escolar, slice of life, uns dramas aqui e acolá, acompanhando a vida das personagens, conflitos, amizades... e você já sabe e deve esperar que uma hora Taiga e Ryuuji ficarão juntos. Se você curte esse estilo de história, a chance de gostar é grande e eu recomendo sim, mesmo que abaixo eu vá apresentar uma crítica negativa por motivos bem pessoais.


Vamos para a crítica com SPOILERS!


Vou falar uma coisa: não me recordo de um anime curto (desses sem fillers e enrolação) que eu tenha começado a assistir, me cativado de alguma maneira, chegado perto do fim e simplesmente tenha parado de ver, insatisfeita e agoniada com os rumos da história (Ookami Shoujo To Kuro Ouji abandonei muito antes). Pois é... foi o que ocorreu com o famigerado e amado "Toradora". Senti muito carinho e raiva do anime, e não poderia passar sem resenhá-lo. Ele é muito recomendado em blogs sobre mangás shoujos, mas segundo minha pesquisa seu público-alvo era shounen (ou seinen).


Tsundere nível Master


Problema Central para Mim: Relação com Agressão e Desigualdade

Dinâmicas de dupla/casal onde um exerce poder sobre o outro e/ou o humilha, domina, são uma constante nos mangás, animes, na literatura ocidental, no cinema americano. Sei que é um recurso cômico, porém, pessoalmente, quando se usa de maneira exagerada, me incomoda profundamente. Aconteceu em Ookami Soujo To Kuro Ouji, onde o mocinho sádico humilhava e explorava a mocinha boba e apaixonada. Tem em outro grau em "Zero Tsukaima", em "Itazura na Kiss"... não importa se a submissão vem de um rapaz ou de uma moça. Não me interessa se a violência e a grosseria, o sadismo, vem de um tsundere homem ou de uma mulher. Esse tesão por ver uma pessoa batendo, ofendendo e/ou esculachando a outra que faz tudo por ela ou a trata com gentileza, ( com a desculpa de que a personagem é legal, mas possui problemas internos) não me cativa. Eu fico é muito chateada.

Então, dizendo isso, vamos falar da parte boa..


Ryuuji: Cara de delinquinte, coração de anjo


Em Toradora, eu até me diverti e vi um bocado de episódios. Os personagens, mesmo os secundários, são interessantes e nos conquistam. Ryuuji Takasu, o protagonista, não é o cara bonito típico de anime (até por não ser shoujo com aqueles meninos idealizados), mas sua personalidade é crível. Ele é organizado, atencioso, maníaco por limpeza e muito bom nos afazeres domésticos, sem ser aquele cara perfeito que em tudo, ou excessivamente bobo. Confesso que ele me agradou bastante e me manteve no anime.

Minori, Taiga e Ami: Meninas de Toradora


Ami também se mostrou interessante, esperta. Uma personagem bacana que fazia a trama girar. E Kitamura fugia do clichê do galã do colégio, e seu comportamento louco era divertido de acompanha.

Minori, a paixão de Ryuuiji, no início, eu resisti um pouco para gostar. Achei que ela seria o típico objeto de desejo do protagonista, aquela menina perfeitinha que todos amam, porém me enganei. A garota é completamente pirada, e confesso que seu jeito meio estranho - não tão apreciado assim pelos outros no colégio, mas sem exagero à ponto dela ser excluída - começou a me aproximar da menina, embora, às vezes fosse meio irritante. Sua devoção e amizade por Taiga, por vezes escondendo seus sentimentos e problemas pessoais, também me fizeram começar a torcer por ela, querer saber mais a seu respeito, suas aflições, o entusiasmo exagerado para esconder uma melancolia, o motivo de trabalhar tanto, ainda mais ao notar seu amor por Ryuuji.

Quanto à Taiga..




Taiga, Taiga, Taiga: eu sempre ouvi maravilhas sobre a personagem, que é uma das mais amadas do mundo dos mangás e animes, e eu jurava que seria fã da menina, entretanto, não foi o que ocorreu. Achei a garota chata ao cubo! Mimada, mal criada, violenta em excesso. Tinha seus problemas? Tinha, mas acho um saco isso ser justificativa para tratar daquela maneira pessoas boas como Takasu, de forma extremamente rude e agressiva. Isso porque eu gosto de muitas personagens tsunderes, mas até certo ponto... a menina batia do garoto do nada. Ela só começa a exibir um comportamento mais normal (mantendo a força, sem ser apelativamente violenta) na metade para o fim do anime, e eu até perseverei, querendo gostar da personagem, querendo torcer para ela ficar com Ryuuji, mas não deu..

Eu torcia logo pra vê-los demonstrando aquela atração apesar da amizade (como ocorre em "Lovely Complex" muito antes deles se perceberem apaixonados), porém pouco aconteceu. Ryuuji mais tratava Taiga como filha (salvo a cena da piscina, onde ele colocou seio falso nela) e eu me acostumei com os dois dessa forma. Mais para o fim do anime, Taiga se percebe afim de Ryuuji, e toda aquela amizade cheia de cumplicidade, começou a exalar tensão sexual. Nesse desfecho previsível e desinteressante, me peguei torcendo contra o casal principal,queria que um cara legal como Ryuuji fosse bem tratado (assim como torci bem contra Irie ficar com Kotoko em "Itazura na Kiss", que nem entendo como consegui assistir inteiro). A cena do Natal foi o ápice: não senti felicidade em ver uma personagem secundária gente boa abdicando de quem ama pela amiga, que parecia ser a única com problemas importantes.

Enfim, essa é minha humilde opinião, minha impressão. Sei que é um anime amado e idolatrado por muitos, mas possivelmente a dinâmica não me pegou e o negócio desandou. Não sei se tem outra pessoa que compactua com isso (pelo visto quase ninguém, e eu entendo, claro). Mesmo assim, eu recomendo "Toradora" sei que pode agradar a muitos! Sei que tem muitas pessoas que assistiram e se apaixonaram, até porque reconheço momentos muito bonitos, até mesmo de Taiga com Ryuuji. Personagens legais, história fofa, design bonito, trilha no ponto... espero que os fãs me perdoem.


Apesar de tudo, ficam uma graça juntos




quarta-feira, julho 19, 2017

Bokura ga Ita: Sentimentos que Transcendem Idade



Gênero: Vida Escolar, Shoujo, Josei, Slice of Life, Drama.


Sinopse: Takahashi Nanami acaba de começar o secundário. Em sua classe, há um menino muito popular, que dizem ter conquistado 2/3 das meninas da escola, Motoharu Yano. Depois de um tempo, Yano e Takahashi começam a namorar, mas muito problemas começam a surgir entre eles. Yano possui um passado muito obscuro. Será que Nanami será capaz de compreende-lô?

Fonte: Wikipedia

Análise e Opinião Sem Spoilers:


No início do ano, quando eu pesquisava animes com temática mais romântica e relacional, Bokura Ga Ita sempre apareceu como uma das sugestões certeiras. A premissa do garoto desejado e popular namorando a garota mediana e enfrentando problemas, contudo, não me chamou atenção à primeira visto. Perco o número da quantidade de sinopses em que o enredo se delineia com este clichê contemporâneo juvenil da garota estranha ou razoável em uma paixão turbulenta com um garoto bacana demais para ela.

Em algumas histórias este artifício me incomoda: em Kimi ni Todoke, a protagonista Sawako é tão adorável em sua personalidade pura por trás da face amedrontadora, o restante das personagens tão carismáticos, que o mocinho apaixonado, Kazehaya, ser o “gostosão da parada” não é tão chato (embora eu ainda acredite que ele poderia ser um pouco menos “número 01” e ainda assim seria legal). 

Em Kaichou Wa Maid-Sama, em contrapartida, a perfeição exacerbada de Usui por vezes chega a cansar. Bom nos esportes, reconhecidamente bonito, gênio nos estudos, rico. Algo que Kareshii Kanojo no Jiyou (Karekano) apresenta também, no entanto subverte ao mostrar a outra face das personagens. Em "Sukitte Ii na Yo",a problemática de se namorar um cara lindo e amigo de todos é um dos focos da trama, e algumas vezes faz um trajeto intrigante em meio ao clichê. Os exemplos são infindáveis, alguns funcionam melhor, outros nem tanto.



Voltemos a Bokura Ga Ita: Nanami tem 15 anos é uma garota comum e doce, aquele arquétipo da protagonista romântica e alegre dos shoujos. Ela está iniciando o Ensino Médio e após ouvir rumores sobre seu popular colega de turma, Motoharu Yano, ter conquistado boa parte das meninas, começa a prestar mais atenção nele. Ela acaba conhecendo e convivendo com o garoto, e após algumas desventuras  e desentendimentos, os dois se tornam amigos, desenvolvem uma atração, e sem muito rodeio e picuinhas, passam a namorar. Em meio a isso, é revelado que ele namorou no ano anterior com uma garota muito bonita que faleceu, e as circunstâncias de sua morte deixaram Yano confuso e com dificuldade em confiar em alguém. A irmã da garota, aliás, é colega de classe de Nanami e aparenta ter uma ligação complicada com o menino. As coisas complicam ainda mais quando o melhor amigo de Yano, Masafumi Takeuchi, também demonstra amar Nanami.

Nana-san, a ex namorada falecida

Yuri Yamamoto, irmã de Nana-san

O anime, então, vai mostrando o aprofundamento da relação de Nanami e Yano: o primeiro encontro, a sensação de se estar apaixonado, ciúmes, sexo – sim, não se deixe levar pelo traço fofo, aqui temos uma ótica muito mais verossímil onde os personagens pensam, falam e fazem sexo naturalmente, sem exagero ou apelação - , e demais peculiaridades comuns de uma paixão adolescente. Nanami, no início, até se sente insegura por Yano ser muito popular, mas, ainda bem, depois de um tempo isso se torna algo superfluo: Nanami amadurece e se torna mais segura e popular, e a relação deles não se constitui numa desigualdade que a faça se humilhar por ele ou se torne o foco da história (como Kotoko todo o tempo tentando chegar à altura de Irie em “Itazura na Kiss”, Erika se humilhando e se esforçando para amolecer o coração de Kyouya em “Ookami Shoujo to Kuro Oji” ou a dependência da solitária Mei pelo popular Yamato em “Sukitte ii Na Yo”).





Quanto a Yano, é um mocinho muito odiável e amável: realmente é bem babaca no início: é o típico popular do colégio – a arrogância adolescente se mostra muito realista neste ponto - , e algumas de suas atitudes são muito detestáveis, dessas que te darão nos nervos, no entanto, é notório o quanto ele luta para ficar com Nanami, o quanto ele se esforça para agradá-la e o quanto corre atrás dela. Eu, que sou bem resistente a personagens masculinos de josei e shoujo, desenvolvi simpatia pelo personagem, compreendendo-o melhor e sentindo pena dele depois dos bolas-fora dados (claro que uma parte de mim ainda torceu um bocadinho para a protagonista ser “roubada” pelo amigo de Yano e seu rival no amor… mas foi coisa pouca). 




Aliás, o mais legal que encontrei no anime foi a identificação: como senti empatia com Nanami, uma personagem tão diferente de mim em personalidade, mas tão próxima em algumas atitudes da adolescência: ela se empolga bastante no início e se esforça para ser amorosa e compreensiva, mas o passado turbulento, as dúvidas, a desconfiança, a falta de imaturidade de ambos, começou a pesar, e nem sempre ela aguentou o tranco. Heroínas de fibra que sempre suportam tudo… por mais forte que Nanami seja, ela é humana e pouco sabe emocionalmente, muitas vezes agindo com ciúmes, possessão, egoísmo. É irritante? É, mas verossímil! Quem não foi assim no primeiro amor? Começou com a pureza da inexperiência e uma hora sentiu vontade de jogar tudo para o alto e desistir pós descobrir o quão difícil pode ser?




Outro ponto positivo: trilha sonora. Tem um ending diferente todo episódio e as músicas embalam todas as cenas. Algumas melhores que outros, mas ao fim, fica tudo na sua cabeça, juntamente às cenas.






CONCLUSÃO

Se você curte romance escolar, slife of life, jogue-se sem medo. Se quer uma coisa bem leve e cômica, não é tanto a proposta de Bokura ga Ita. Uma relação mais adulta, menos “bobinha”, personagens não tão cativantes e carismáticos, mas com quem nos identificamos com seus defeitos. Miscelânia se sentimentos e dramas. Recomendo!