FULLMETAL ALCHEMIST BROTHERHOOD
Gênero: Drama, Ação, Aventura, Shounen
Autora: Hiromu Arakawa
Já aviso, eu ainda não assisti ao Fullmetal Alchemist Clássico. Sempre ouvi falar infinitamente bem de FMA, mas a quantidade de episódios e o fato de terem filmes, ovas e um remake me fazia não ter ideia de por onde começar. A trama, que parecia se centrar em lutas, ação e aventura, também já não é o estilo que mais me salta os olhos.
Porém, ao ouvir repetidos elogios de críticos e leigos apreciadores de animes, fui atrás. A indicação era para iniciar com Fullmetal Alchemist Botherhood por ser mais fiel ao mangá (o primeiro anime destoa do material original e praticamente é um filler, uma história paralela, embora tenha seu enorme grupo de fãs).
Vamos a Sinopse:
"Nada pode ser obtido sem sacrifício. Para se obter algo é preciso oferecer algo em troca de igual valor. Esse é o princípio básico da alquimia, a Lei da Troca Equivalente". (Elric, Alphonse)
Em um mundo onde a Alquimia existe e é amplamente utilizada por algumas pessoas, os irmãos Edward e Alphonse Elric, empolgados com as próprias habilidades, resolvem desafiar a Lei da Alquimia, que proíbe a transmutação humana, para trazer de volta à vida a mãe, recentemente morta por uma doença. Contudo, por conta da Lei da Troca Equivalente, descrita na citação acima, Edward perde uma das pernas e Alphonse perde o próprio corpo. Em um ato desesperado, Edward consegue selar a alma de Alphonse numa armadura, mas como troca perde também um dos seus braços.
Após o ato pecaminoso, Edward já com próteses para substituir o braço e a perna, decide, junto a Alphonse, partir em busca de algo que possa resgatar seus corpos, como a lendária e famosa Pedra Filosofal. Para ajudar a investigar a existência da Pedra Filosofal, Edward entra no time de Alquimistas do Governo, por conta de seu talento acima da média, o que lhe confere a alcunha de Alquimista do Aço, o mais jovem alquimista federal. O que de início é uma jornada para alcançar seus objetivos pessoais, desenrola-se em um enredo repleto de complôs, um viés político, antagonistas, vilões e aliados, com outros personagens aderindo à trama, como o Coronel Roy Mustang, Winry, a amiga de infância dos irmãos, a mestre Izumi Curtis, o Príncipe Ling Yao, entre outros, além de dilemas a respeito da conquista ao poder em voga.
DE TÉDIO A VÍCIO
Demorou até eu me convencer de que assistiria os 64 episódios. Se não fosse o alarde entorno de FMA, eu teria desistido. Mas ainda bem que eu continuei..
Fullmetal Alchemist, no primeiros episódio, dá uma trama interessante que te incita vontade de acompanhar. A cena dos irmãos pequenos perdendo corpo e membros é emocionante. Depois disso, porém, eu fiquei um pouco desanimada para acompanhar. O trabalho dos meninos na Cidade Central não me abrilhantava os olhos. Apesar disso, persisti.
Fullmetal é bastante cômico e cheio de ação. A comédia é um dos fortes no começo, e para alguns pode soar infantilizado (confesso que me diverti). Assemelha-se em parte aos tempos engraçados de Dragon Ball, ou a Narutinho, ou outros shounen, sem as piadas com garotas peladas ou velhos tarados. Entretanto, quando a gente vai percebendo onde a trama quer chegar, percebe-se que é tudo muito mais profundo e bem planejado...
Os personagens vão te conquistando aos poucos: o explosivo Edward (e seu complexo de altura) e o doce Alphonse, a relação de lealdade e amor dos irmãos é uma delícia de se ver; a carinhosa e explosiva Winry, o monstruoso e afetuoso Armstrong, o gentil e desajeitado Hughes, o sério e habilidoso, mas por vezes sem noção Coronel Roy Mustang, o ganancioso e excêntrico Greed, o perspicaz Ling Yao, são alguns dos personagens que nos cativam, dentre inúmeros que dão as caras.
Estranhos e poderosos seres malignos como a sedutora Lust, o tenebroso Gluttony, o arrogante Envy, capaz de mudar de forma, pareciam, no início, meros vilões, daqueles típicos. A aparição do misterioso ishvaliano Scar, que quer se vingar pela dizimação de seu povo, objetivando assassinar os alquimistas que ele acredita estarem pecando e brincando de "Deus", reacendeu novas discussões e também a minha chama de interesse, cruzando-se com a vilania já estabelecida.
Questionar os ciclos de ódio, vingança e guerra, preconceito e intolerância entre etnias (representados pelos Ishvalianos, vilanizados, mas vítimas), a supremacia do poderio, militarismo e suas obrigações (a exaltação cega no Führer), a busca desenfreada pela satisfação pessoal, a arrogância que pode vir de qualquer ser humano (Mustang, Ed), a moral no uso da alquimia (transmutação humana, surgimento de quimeras), as consequências desoladoras de atos dúbios (irmãos Elric, Mustang e Riza, Scar e sua vingança), a aceitação da condição humana e da efemeridade da vida (a perda de Trisha, a busca pela eternidade através da Pedra Filosofal).. tudo isso são camadas dramáticas e existenciais presentes indireta ou diretamente. A autora se usa de um mundo fictício para falar de temas humanos!
Muitos amantes do FMA clássico disseram que a versão Brotherhood é mais infantil. Que a primeira é pesada e com um final mais triste e por isso mais impactante. Eu acredito que Brotherhood, porém, seja densa ao seu estilo, e faz o que trabalhos aclamados da Dreamworks conseguem com maestria: trazer camadas à história, possibilitando que ela seja apreciada por uma criança, por um adolescente ou por um adulto. Uma criança será capaz de inferir uma parte das camadas, dentro de sua visão de mundo poética e sensorial. Ela vai captar as dores da perda e a amizade e perseverança, presentes de forma clara do início ao fim, divertir-se com os momentos cômicos, apreciar as cores fortes e os efeitos nas lutas.
Aqueles com mais maturidade conseguirão, entretanto, absorver os dilemas existenciais, a responsabilidade com as atitudes, e todo o contexto de crítica à guerra e ambição humana.
O UNIVERSO E A ALQUIMIA
Achei o universo bolado pela Arakawa um dos mais plausíveis e bem amarrados. O país onde a história se passa, Amestris, assemelha-se à Europa da Revolução Industrial, possui algumas etnias, e a técnica de Alquimia ser parte do dia a dia sócio-político do local é algo apresentado de forma firme e crível. A autora parece ter estudado à fundo a Alquimia e seus princípios e Leis, a relação com Química, o que, junto à magia fantástica, torna-se interessante e verossímil em sua própria lógica. Também transpõe as questões de conflitos religiosos e territoriais com a luta da população contra os Ishvalianos, etnias de um mesmo país. Os outros países (Xerxes, Xing), lendas e acontecimentos anteriores acrescentam riqueza.
PARTICIPAÇÃO FEMININA: OUTRO PONTO FAVORÁVEL
Fullmetal Alchemist dá uma aula de como utilizar personagens femininas. Os protagonistas são garotos (o público-alvo de Shounen são garotos dessa faixa-etária, nada mais natural), mas desde o início as mulheres participam ativa e efetivamente. Elas não são sexualizadas nem servem de adorno (mesmo a Homúnculos que representa a luxúria, Lust, é ativa, e não objeto de alguém). Elas são diversas e possuem várias motivações e personalidades. Femininas ou não, espertas, ligadas a beleza, alquimistas, fodásticas, comuns, inteligentes, com força interior ou física, boas ou más. Elas não estão lá apenas como enfeite ou como muleta de personagem masculino. É uma pena ter que comemorar algo que deveria ser o natural..
TRILHA SONORA
Não sou muito de falar dos efeitos ou design, até porque em Fullmetal não tem nada de espetacular, contudo, em relação a trilha sonora, é um trunfo! As músicas que compõem as cenas são tocantes. A "Main Theme" que é utilizada na Transmutação Humana dos irmãos Elric é uma das minhas favoritas, um misto de ironia e tragédia. A Trisha's Lubally é uma das mais tristes e bonitas dos animes. A primeira abertura empolga e já se tornou clássica. Existem várias outras canções interessantes, ora pontuando as sensações, ora contrastando com o acontecimento.
(essa segunda é só se você quiser chorar)
SOBRE O FINAL (PODE CONTER SPOILERS DO ENREDO)
Achei o final, em que Edward sacrifica seu poder de Alquimia para trazer de volta o corpo do irmão, extremamente impactante e certeiro. Muitos acharam que foi pouco: que o final dramático do FMA clássico, em que eles se separam, seria uma troca equivalente melhor, porém, eu estou com a autora e criadora da série. As habilidades extraordinárias de Edward foram responsáveis pela impertinência que resultou nas limitações dos meninos. Porém, eles também eram CRIANÇAS, vítimas das circunstâncias. Aparentemente abandonados pelo pai, sozinhos, sem a pessoa mais importante, que era a mãe. Eram crianças de coração enorme e muita bondade, um vínculo afetuoso e mútuo entre si. Eles mereceram o final feliz que tiveram. É triste você pensar no Edward viver para sempre sem seu talento mais precioso, uma genialidade que o destacava dos demais. É levemente agridoce.
(FIM DOS SPOILERS)
CONCLUSÃO
Fullmetal Alchemist Brotherhood é um anime que me surpreendeu positivamente, embora eu já tivesse iniciado com altas expectativas. Eu me diverti, chorei, ri, fiquei viciada, desopilei da vida, umas poucas vezes agoniada ou entediada, mas muito tocada. FMA deixou um gosto que só ótimas obras deixam: concluída, mas com o eco da história ressoando na minha própria vida.
Por Bruh